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Os ìndios Mohawks e o verdadeiro show da vida.

15/07/2012

Durante a leitura do livro Sunset Park do escritor Paul Auster “descobri” o que os construtores americanos faziam para conseguir gente com coragem suficiente para a construção dos arranha céus que viraram símbolo de Manhattan. Trouxeram índios da comunidade Mohawks “…a fim de serem operários na construção civil e trabalharem nos prédios altos que subiam em Manhattan, Mohawks porque, por algum motivo, os Mohawks não tinham medo de altura, sentiam-se à vontade no ar e eram capazes de dançar sobre as vigas e as traves sem o menor temor e sem a menor oscilação de vertigem…”.
Lembra aquela foto famosa de operários conversando animadamente sentado em cima de uma viga a dezenas de jardas do solo? Se por um lado a foto não tem nada a ver com montagem, por outro liquida com o mantra de qualquer palestra de segurança de trabalho quando quer ilustrar que aqueles tempos eram outros, pois parece que os caras não estavam nem aí mesmo para a altura.
Ainda hoje quando me encaminho à beira de uma laje em concretagem, me apoio no guarda corpo e olho o chão a dezenas de metros de distância da sola de minha bota me assusto com a altura e pergunto se teria coragem de montar forma de pilar de beirada, mesmo que seguro com cinto de três pontas e talabarte. Definitivamente não teria.
Semanas atrás durante reunião com encarregados questionava como que havia gente que entrava no canteiro , trabalhava o dia todo e só batia o ponto se a menina do DP os lembrasse ao que o encarregado me respondeu, “Dionyzio, é gente que chegou ontem do interior e não tem costume com nada disso”. Concordei com ele e passamos a tratar de outras situações que ao nosso ponto de vista são tão óbvias, mas que para eles são inusitadas.
Ainda hoje fichamos muitos operários que viviam livres e sem regras num interiorzão do Norte-Nordeste, como um índio Mohawk, apenas porque são parentes de algum bom trabalhador do nosso quadro, o que não tem nada de errado, até pelo contrário.
Talvez devamos levar este fator mais em conta quando ministrarmos nossos treinamentos. Chamou-me a atenção que o operário morto em recente acidente envolvendo queda de altura numa das obras das mais rígidas em termos de segurança de trabalho em Brasília, era um ajudante que estava no canteiro de obras a menos de um mês.
Recordo-me que anos, exatamente no dia em que o fiscal da DRT visitava nossa obra me deparei com uma dupla de funcionários brincando de luta em cima de um andaime fachadeiro a mais de 20 ml de altura. Gritava com os dois, mas o barulho das máquinas não permitia que escutassem, só pararam quando cansaram. Hoje acho engraçado, porém àquele instante queria “matá-los”.
Já pensou se cada um destes milhares de “Mohawks de talabarte” que se dependuram diariamente em milhares de canteiros de obras pelo Brasil gastasse o tempo com frivolidades do tipo gravar filme no “youtube” chorando emocionado dizendo “filhinha é para você” como o repórter da TV? Pensando melhor, é bem capaz que haja mesmo alguns doidos que enquanto desformam a trinta metros de altura telefonam para saber se a mulher já conseguiu consulta para a filha doente.
Esporte radical é isto, ou melhor, show da vida é isto.

One Comment
  1. Docastelo permalink

    No Rio de Janeiro consta que alguns representantes dessa tribo foram contratados como mestres de obras para trabalhar na construção do edifício Avenida Central, localizado no número 156 da Av. Rio Branco, centro do Rio. Essa construção ficou conhecida como a primeira em que foram empregados métodos de construção semelhantes às utilizadas nas grandes cidades dos EEUU, em especial nos arranha-céus de Nova York, com o uso de vigas e placas pré moldadas de concreto. Esse prédio também foi inovador na utilização de sistema de combate a incêndios por meio de sprinklers e equipe própria de bombeiros civis. Isso tudo além dos modernos elevadores automáticos Supertrafic por comando de voz, e outras modernidades para a época. Foi o primeiro edifício a ter CEP próprio, com circulação de pessoas em número equivalente a pequenas cidades.

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