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Cambuí

-Os Cambuí apareceram mesmo este ano …

Meu pai quem constatou, enquanto percorríamos de carro o eixinho oeste rumo ao salão caiçara , barbearia antiga na comercial da 105/106 sul.

Foi então que me dei conta da explosão de amarelo ,especialmente neste ano , em meio ao verde das copas das árvores que margeiam os eixos , um amarelo de tonalidade distinta do ipê .

Encontrada em várias regiões do Brasil , da caatinga até a mata gaúcha , as primeiras sementes de Cambuí ,” folhas que caem” na língua indígena, aqui chegaram vindas de Minas Gerais .

Podiam não ter vingado, como não vingaram as da sibipiruna , as mais famosas da família e preferidas pelos jardineiros da época , mas deram certo e floresceram ,como Brasília .

Deram certo como gregos feito o senhor Antônios , mineiros feito Sandro o barbeiro , o ipê que deu a flor símbolo do país e o Cambuí , de amarelo característico , porte elevado , como mastro e bandeira fincado em terra conquistada por milhares e continuarão a dar agora , depois da aprovação do PPCUB pelo conplan …

Nego corre para a Asa Norte …

Bom que tenha me enganado. Acreditava que o restaurante Du Pará tinha cerrado as portas. Empreendedor, havia aberto uma filial na W3 Sul ao mesmo tempo que transferia o ponto da esquina original na SHCGN 715 para outra. Pretendia ,com mais espaço na loja, montar uma churrasqueira e assar Tucunaré na brasa.

O da W3 Sul visitei algumas vezes e estava claro que fracassaria. Restaurante nenhum aguenta ônibus “dentro” da loja, espalhando fumaça na cara e decibéis nos ouvidos do cliente.

Achei que o novo da Asa Norte havia fechado também, pois encontrei outro comércio onde cria havia aberto a nova loja, mas minha filha semana passada chegou com a boa nova. Me confundi. Ela vira o restaurante noutra quadra, a SHCGN 714 e sábado passado já estávamos lá saboreando seus pratos típicos e de preço bem em conta.

A Asa Norte não é tão bela quanto a Asa Sul, mas é mais cidade e isto ajudou a salvar o Du Pará. Ela acolhe mais. Tanto que saindo do restaurante, passamos pela papelaria Casa das Artes, localizada num subsolo do SCLN 102. Ampla, variada e completa, ostenta na fachada a placa que anuncia, desde 1979.

O fim de tarde ensolarado do inverno Brasiliense nos convidou a transitar pelo comércio diversificado da quadra, com cara de São Paulo, bares e cafés de todos os gostos, até nos deparar com um certo brechó dos óculos. Sinal de riqueza cultural.

A W3 Norte engana com sua aparência de boca desdentada. Foi se transformando sem a ajuda de decretos de governo, exceção à limpa das oficinas ilegais. A distância entre comércio e a pista central, além do setor residencial mais afastado ajudaram a fazer a diferença. Lá, nada de fumaça e decibéis a importunar o cliente. Resultado, de segunda a sexta comércio variado e aos finais de semana restaurantes de todos os sabores. Isto sem contar a atividade noturna.

Estava com saudade do creme de bacuri. Na próxima visita troco o vatapá pela maniçoba . Mais caro, R$ 35,00 em vez de R$ 28,00. Diferença que uma boa dose de cachaça de jambu amortece.

Carteira de Motorista

Jamais havia visto piso tão apropriado para área de alto tráfego quanto o da Eliane utilizado na reforma do Edifício Bandeirantes no Setor Comercial Sul. Placa 30 x 30 com retalhos de 5 cm ondulados e dispostos em sentido contrário. Como é cinza, combina com a calçada, então não chama a atenção a diferença. A Ligia me contou que saiu de linha, vai entender…

Modernizado, o prédio no Setor Comercial Sul irá abrigar um curso de Pós-Graduação de Block Chain da Universidade Católica, afim, portanto, ao desejo da Ligia e demais empreendedores do local de tornar o Setor em um Polo de Inovação Tecnológica.

O do Shopping dos Importados é cimentado. Feito às pressas para abrigar a segunda leva de ambulantes que teimavam em ocupar o centro de Brasília. Embora com melhor infraestrutura e localização, nunca teve o sucesso da famosa Feira dos Importados, também construída à toque de caixa, mas para abrigar a primeira leva de vendedores de rua.

Em comum a falta de público num e noutro lugar. Quer dizer, falta não, público até há, mas não transforma o local por onde circula, caso da Feira dos Importados, por exemplo. No Setor Comercial Sul , ouvi dizer, há um fluxo de 200 mil por dia , mas no momento da inauguração do curso ninguém circulava por lá , a ponto da anfitriã sugerir que alguém me acompanhasse ao carro, estacionado num espaço público, bem iluminado e cuidado .

Está em andamento o PLC 141/2022 que vai permitir que se instale no Setor quase três centenas de novos tipos de comércio, faculdades e escolas inclusive. Aí, é provável que de uma Pós noturna a iniciativa da católica evolua para complexos inteiros de ensino o dia inteiro. Desnecessário dizer que um negócio atrai outro afim e com o tempo o espaço transforme-se num verdadeiro bioma.

Não fossem secretarias como a do Detran (Por isto estava lá), que atraem fluxo ao local, possível que o Shopping dos Importados seria um ermo só. Uma estrutura gigantesca montada ao lado da histórica rodoferroviária, que hoje não recebe nem trem e nem ônibus. Entra governo, sai governo, em Brasília e Goiás, e nenhum testa encher de gente em vez de areia os vagões da locomotiva que sai da histórica cidade de Luziânia, passa por Val Paraíso, populosa cidade do entorno, Núcleo Bandeirante, pronta antes da capital, e chega na rodoferroviária, através de uma linha que já existe.

Da turma que prestou exame escrito para carteira de motorista, não sei se muitos poderão adquirir carro próprio em breve. Alguns que terminam o exame, saem correndo para pegar o ônibus em direção a algum compromisso.

Ônibus que não tem na rodoferroviária, mas tem no Setor Comercial Sul, local mais acessível de Brasília (onde até metrô chega) e que só agora terá escola…

O Barraco do Kdu

Barbada! O projeto denominado Casa do Pomar, ou Barraco do Kdu, seu proprietário, localizado no Aglomerado da Serra, nome de condomínio , mas que na verdade faz parte do maior complexo de favelas de Belo Horizonte, foi o vencedor na categoria Casa do Ano de 2023 na premiação internacional realizada pela ArchDaily , uma das plataformas de referencia em arquitetura no mundo , segundo Eliane Trindade em sua coluna na Folha de SP de 25 de fevereiro 2023.

Disse barbada porque depois que o projeto foi alçado a condição de favorito por conta das redes sociais não teria mais como segurar.

E o projeto é muito bacana mesmo…Quando me refiro a projeto trato da concepção total; um influencer do lugar, que tem um projeto social lá, procura um grupo de arquitetos envolvidos com a questão social, no caso o Levante Coletivo, para dar asas ao sonho da casa própria, na favela onde nasceu.

E criam então um projeto em sintonia com o lugar; fachada em tijolo aparente, esquadrias com pequenos vitrôs em painéis de tamanho de porta, instalação aparente , cimento vermelhão queimado e …a laje do churrasco, coberta com telha aparente, acho que ondulada. 66 m2 de bom gosto a R$ 150 mil reais ou R$ 2.350,00 /m2, valor se não razoável , afinal preço de material de construção anda pela hora da morte, ao menos coerente com os custos de obras hoje em dia, quitado com os honorários que o proprietário recebe de palestras que realiza pelo Brasil .

Ano passado assisti a apresentação de documentário sobre o trabalho de importante Escritório de Arquitetos e em meio a tanto projeto original, bonito e funcional me frustrava pensar que estariam ao alcance apenas de endinheirados. A Casa do Pomar prova que não…

A escola de arquitetos do Brasil é uma das mais competentes do mundo e a preocupação social é uma das forças que a move. Políticas públicas eficientes devem fazer com que a qualidade deste trabalho chegue à população mais necessitada.

Matéria divulgada pela Agência Brasília em 22 de fevereiro de 2023 mostra que convênio entre o CAU-DF (Conselho de Arquitetura e urbanismo) e a Codhab(Companhia de Desenvolvimento de Habitação de Brasília) viabilizou a construção de banheiros para 20 famílias da Estrutural, favela de Brasília, em condições de vulnerabilidade. Numa delas, o filho da Dona Celma, portador de câncer no intestino, conseguiu finalmente seu espaço.Como a experiência citada acima, muitas outras devem existir no país.

Concluo dizendo o desnecessário acerca de mais uma tragédia anunciada de início do ano envolvendo fortes chuvas , inundação e moradores de espaço de risco sendo mortos. Alguém tem dúvidas que a ação coordenada de arquitetos urbanistas e engenheiros especializados em geotecnia teriam dado conta da situação? Provável que até a R$ 2.500,00 o m2.

Asa Norte

A turma de comunicação da UnB que estuda à noite, logo após a apresentação dos trabalhos de final de curso saiu para comemorar o final do semestre. Iriam confraternizar ali por perto mesmo, numa entrequadra coalhada de bares, pizzarias e similaresl.

Chama a atenção a variedade de opções. Voltados para a pista aqueles com as fachadas de atrair , iluminadas e com mesas expostas. Pro lado da quadra os mais introspectivos, de bar e garrafa, para se apreciar solo ou bem (ou mal) acompanhado.

São jovens de todos os cantos de Brasília, refiro-me a cidades satélites, que com o advento das cotas sociais passaram a ter eles também o direito de estudar numa universidade pública. Não fosse assim será que algum dia, noite no caso, poderiam desfrutar da alegria do término de um semestre no centro tombado da capital do Brasil?! Imagino que não…

A UnB é mal aproveitada como centro indutor da sociedade brasiliense. Logo ela que nasceu e cresce junto da cidade! Como me disse o Pedro Grilo, “deveria haver um metrô para a UnB!”. Sem mobilidade urbana plena o direito conquistado ao ensino público e gratuito de qualidade fica incompleto. Por exemplo, a comemoração do final de semestre para a grande maioria que mora longe não pode se estender , já que dependem do transporte público para chegar em casa e raros são os que não precisarão de baldeação na rodoviária.

Saísse do Park Way um dia me mudaria para a Asa Norte. Nem vou muito lá, mas quando acontece de ir gosto bastante . Deve ser o mais eclético rincão da cidade. Gente de todas as classes sociais. O Pedro entende que foi determinante para o sucesso do bairro a liberação de um andar acima do comércio das entrequadras. Utilizados como kitnetes e ocupados por jovens em sua maioria, ajudam a manter o comércio local e dão vida e movimento à Asa. Na minha opinião , o formato geométrico, em blocos, facilita a distribuição do comércio e permite maior adensamento e variedade de lojas.

Em Brasília quase não se vê livrarias de rua , melhor dizendo , em Brasília não se vê livrarias de rua. A exceção é a Asa Norte, onde até tem-se um caso retumbante de sucesso de empreendedorismo no difícil segmento; Um modesto sebo, que hoje toma conta de metade de um bloco de lojas.

Ontem , esperando no carro dar a hora de uma reunião na 510 Norte, enxerguei ao longe , numa quadra de esportes, um grupo de pessoas que pareciam fazer ginástica, mas prestando maior atenção me dei conta que treinavam passos para pular carnaval de rua. Quem guiava era um rapaz de peruca rosa choque estilo black tie.

À noite a professora de grego lamentava que com a chegada inesperada da mãe, uma visita surpresa pelo seu aniversário, não teria mais como viajar para Salvador, já com a passagem paga. Tentara comprar uma para a mãe, mas o preço aviltava. Disse a ela que não se preocupasse , pois Brasília já tem uma história de boa folia e a Asa Norte , onde fica a nossa comunidade, em especial

Só agora que me dei conta do tal ensaio que tinha visto. Lembrasse teria dito a ela pra participar. É perto da comunidade, onde mora , e ela é bem animada e extrovertida , capaz que fosse e tomasse rapidinho o posto do rapaz de peruca rosa choque estilo black tie.

PPCUB- CAU- EPIA – Parkway

Devido a pandemia, Ângela transferiu o consultório para o apartamento onde mora. Um prédio bonito , de projeto arquitetônico raro e ainda bastante preservado, numa das primeiras quadras construídas de Brasília .

Uma espécie de hall o interliga a outro siamês e conta com prumada única de elevadores , um social e outro de serviço, servindo a todo o prédio.

Quem chega, seja morador, visita ou trabalhador, transita pelo mesmo corredor até a porta da casa. Corredor longo, de piso em granitina branca , limitado num dos lados pela icônica parede de Cobogó, marca registrada dos prédios de Brasília.

Agora por lá chegam também clientes como eu, bem tratados na portaria e que trocam cumprimentos educados com os vizinhos.

Ângela mora sozinha , sozinha não , com um gato de 15 anos . Antes era um casal e desde que a companheira morreu, carente e cego, se apegou ainda mais à dona. Ciumento , quase sempre me aguarda no quarto consultório e um dia , quando nos demos conta, estava bebendo água do copo que eu deixara ao pé do divã.

A quadra é bem arborizada e quando chego com antecedência gosto de sentar num banco ergonômico de madeira e deixar o vento fresco, que corre solto pelo pilotis desimpedido, bater na minha cara.

Minha consulta é às quartas logo depois do almoço , mas por conta de compromissos recorrentes vez ou outra peço para mudar a agenda , normalmente para o final da tarde . Quando isto ocorre, não me furto em dar um pulo na pizzaria Dom Bosco e pedir duas duplas e mate . O ruim é que nesta hora o trânsito pra casa , moro no Park Way, costuma enganchar na altura da subida da floricultura da EPIA(Estrada Parque Indústria e Abastecimento).

Comentei com o Pedro Grilo que o prédio fazia por merecer o prêmio que o CAU (Conselho de Arquitetura e Urbanismo) oferece anualmente aos mais preservados da cidade. Não soube me dizer porque nunca tinha ganho , mas conhecia o prédio , acreditava que uma reforma prejudicara alguns quesitos que são levados em conta na avaliação e pediu que lhe enviasse as fotos. Vi agora que não enviei…

Mais gente no Plano Piloto poderia usar a casa como local de trabalho . Neste momento em que se debate o PPCUB (Plano de Preservação do Centro Urbano de Brasília) é pertinente se levantar a questão. Brasília está envelhecendo , como o gato da Ângela . Não nos cabe ser ciumentos como ele. Mais gente precisa ter uma boa história com ela para contar, do contrário ,deserta e insegura, não vão nos deixar sentar nos bancos e sentir o vento fresco, que corre solto pelo pilotis desimpedido, bater na nossa cara.

Entre os eixos do DF

NÚMEROS RELEVANTES

• Participação da indústria na economia do DF: 4,6% em 2020 e era 8,7% em 2002

• Em Outros estados: 20% a 25% em 2020

PIB construção civil: 55,9% da indústria e 2,5% do total da economia local em 2020 e 66,3% e 5,5% respectivamente em 2002

70 mil dos empregados formais gerados na cidade e mais 70 mil advindos do entorno,

Prestes a completar 63 anos , Brasília já é a terceira maior cidade do Brasil.

Uma vitória, que poderia nos orgulhar ainda mais não fosse o crescimento exponencial da ocupação ilegal da terra, a despeito dos esforços perpetrados pelos dois últimos governos. Não custa mencionar que a pior chacina jamais vista em Brasília, que ceifou a vida de 10 pessoas de uma mesma família ocorreu por conta de conflito de terra, terra ilegal.

No que tange à indústria, da qual faz parte o Sinduscon-DF sua participação na economia local foi de 4,6% em 2020, caindo, portanto , em relação aos 8,7% de 2002. Por razões peculiares do DF essa participação é bem menos expressiva que a de outros 5 estados de economia pujante, SP, RJ, MG, PR, BA, todos na casa de 20 a 25%.

No que tange à construção civil, contribuímos em 2020 com 55,9% do PIB da indústria e 2,5 % do total da economia local, enquanto em 2002 os valores eram 66,3% e 5,5% respectivamente. Nossa participação no PIB da indústria é bem superior a dos setores da construção civil nos estados citados acima, que varia entre 14% a 20%. Mais uma vez, graças as peculiaridades de Brasília. O fato de uma cidade começar a ser construída no nada e do nada e tornar-se a terceira do Brasil em tão pouco tempo só foi possível em virtude da participação intensa do setor da construção . Importante que se frise que a história de Brasília se confunde com a da própria engenharia nacional. A década de 1950, quando a cidade começou a ser construída, foi de grande transformação para a engenharia no mundo, e o despontar da arquitetura moderna motivou a efetivação em definitivo de sistemas construtivos inovadores como o concreto armado. Brasília foi o campo de prova para a consolidação deles no Brasil .

A indústria da construção local cumpriu e até hoje cumpre seu papel ! A seguir alguns marcos;

Construção nas décadas de 1960 a 1980 das cidades satélites previstas no projeto original de Brasília, casos do Guará, Taguatinga e Ceilândia.

Desde o início dos anos 2000 e até hoje consolidando o bairro de Águas Claras , por muitos anos o maior canteiro de obras da América Latina, e a despeito de problemas relacionadas a infraestrutura, pode ser considerada exemplo de cidade moderna, dispondo de bom adensamento urbano (300 hab/he), acessível por metrô , comércio pujante e famílias de diferentes classes sociais convivendo em proximidade .

Antes de Águas Claras, primórdios dos anos 1990, a construção de Samambaia, nosso último bairro planejado, já havia iniciado e quase que concomitante contribuímos com a viabilização do Sudoeste , que ameaçava cair no limbo por conta da derrocada da Encol.

Por fim, ajudando a tirar do papel o bairro do Noroeste no centro tombado , com projetos fornecidos pela Ademi. A primeira etapa do bairro, por volta de 2010, foi um sucesso de oferta e demanda , embora até hoje as construtoras paguem pela disposição em assumir riscos, acionadas que foram judicialmente por conta das contrapartidas de infraestrutura, que caberiam ao governo por lei, não terem sido cumpridas a contento e no prazo obrigatório.

O setor de construção local é tão vigoroso que na época do surto chinês de crescimento, pelo qual passou a construção civil nacional em torno do ano de 2010 , construtoras de renome nacional vieram para Brasília disputar mercado e não se firmaram. Hoje, além de ao menos quatro empresas genuinamente locais de porte das nacionais, há uma gama de outras incorporadoras construindo legalmente em praticamente todas as regiões administrativas onde haja oferta de lotes legalizados e os códigos de implantação e obras permitam oferecer imóveis de qualidade e desempenho a preços competitivos.

No que tange às empresas de obras públicas, cita-se notadamente sua contribuição durante todo o período de implantação da infraestrutura da capital, do período da construção até primórdios da década de 1980.

Outro marco foi a implementação do Metrô, cujas obras só ganharam celeridade quando as mega empreiteiras brasileiras que venceram a licitação terceirizaram serviços para as locais . A partir daí o setor passa a sofrer por conta da inação em que caiu a cidade a partir de 2009, em virtude de crise política.

Nos últimos quatro anos , quando enfim pacote significativo de obras é lançado e faturas pagas em dia, grandes obras, previstas para lançamento há mais de uma década, estão enfim acontecendo, a despeito dos quase três anos de pandemia de COVID e seu impacto trágico no aumento repentino e exponencial dos preços de insumos.

Alguns pontos são prioritários na consideração de um futuro em que a indústria eleve sua contribuição na economia local. Salientando antes que a análise da redução pela metade da participação da indústria no PIB local ,algo nem de longe visto nos demais estados que analisamos, talvez possa nos ajudar na busca de bons caminhos.

1. PPCUB –o atraso de 20 anos na aprovação do PPCUB é inadmissível. No limite pode levar à perda do título de patrimônio mundial da Unesco, o que seria uma tragédia do tamanho de uma intervenção federal. A cidade se dinamiza naturalmente e não pode ter mais como parâmetros arquitetônicos e urbanísticos os mesmos da sua criação. O centro tombado que poderia ter 500 mil moradores hoje não tem nem metade . Uma população que envelhece e não é reposta, um bairro caro e viável financeiramente a uma classe social apenas torna-se inseguro , um dos resultados, por exemplo, é o surgimento a todo o tempo de gradis de isolamento do pilotis. Uma afronta ao projeto original de Lucio Costa!

O texto do PPCUB hoje pronto , já bem debatido na câmara técnica do CUB e aperfeiçoado graças à contribuição da entidades diversas representativas de amplo espectro da sociedade, pode não ser o ideal , mas o feito é melhor que o perfeito . Devemos deixar preciosismos de lado e colaborar para que seja recebido logo na Câmara Legislativa e lá, aprovado ainda no 1º semestre de 2023.

2. Abertura de novos bairros legalizados , adequação, nos casos devidos, da destinação de terrenos para utilização em programas de moradia social, financiados com base em engenharia financeira customizada para que não haja gasto de dinheiro público.

3. Investir na integração do entorno de Brasília . No caso da indústria da construção, 70 mil dos nossos empregados formais veem do entorno, metade do total. Investir em mobilidade urbana , por exemplo, é premente. Temos 2 milhões de vizinhos morando ao nosso lado, que seja uma população dinâmica, sadia e com indicadores sociais similares aos nossos.

4. Investir em tecnologia. Brasília foi criada sob a égide da Universidade de Brasília , hoje uma das mais importantes do Brasil e constante em rankings mundiais de desempenho. É uma cidade nova , modernista , com sua primeira geração nativa já em postos de comando de todos os setores da economia. A título de curiosidade, a UnB oferece 14 cursos distintos de engenharia e a USP, a maior do Brasil, 17, três a mais apenas. Precisamos explorar tal potencial. O lançamento enfim do primeiro campus da Universidade Estadual de Brasília, anunciada pelo governador na posse, dentro do Biotic, ajudará a dinamizar o polo de inovação, que conta com o apoio da FIBRA.

5. Investir em Cultura . Brasília é cidade de alto poder aquisitivo e escolaridade . A quantidade, variedade e qualidade do que é oferecido em termos de arte e cultura precisa ser compatível com o status de capital e terceira metrópole urbana do país . Investir na revigoração de equipamentos públicos é determinante; a reforma do MAB, início das obras do Teatro Nacional, da concha acústica são alvissareiros, mas o a população precisa ter condições de pagar pelo evento e facilidade de acesso ao local por meio de transporte público.

Conclusão

Brasília precisa voltar a normalidade política logo. A queda recente em seus indicadores sociais, educacionais e de saúde prospectados pelo CODESE no ano passado tem a ver também com o período turbulento inciado em 2009 e só a partir de 2016 paulatinamente amainado. Obras emblemáticas , como Drenar DF, Túnel , ampliação do ramal do Metrô servem apenas para quitar parte de um passivo de anos com a sociedade . Precisamos de tranquilidade e harmonia agora para dar conta do que é estruturante de fato.

Os que fazem parte da classe privilegiada e os representantes das diversas instâncias do poder público precisam fazer mais para que o sonho de Dom Bosco se torne enfim realidade.

Obras de Arte

Quando falamos em obra logo vem à mente um viaduto, uma rodovia, um prédio qualquer…Com um pouco mais de preocupação social, a construção de uma escola ou hospital, mas nada relacionado à cultura. A algo como o moderno e inovador Museu da Gente Sergipana em Aracaju -SE, com o dom de permitir a reverência à origem e história, o orgulho de pertencer a um povo e usar o poder que cada um tem para transformar.

A bem dizer, no que tange ao Museu, nem foi construção, mas reforma de prédio datado de 1926. Embora, a bem da verdade, suas instalações transcendam o prédio centenário. Há que se considerar também sua extensão montada em bases fundeadas no Rio Sergipe, sobre as quais vê-se fixadas personagens gigantes e típicas do regional Sergipano. Um cenário deslumbrante que a boa engenharia, inovadora como o museu, ajudou a materializar.

Matéria do Estadão de 12 de janeiro de 2023 mostra os esforços da prefeitura de São Bernardo -SP em investir na troca das tampas de bueiro de ferro fundido, à medida que são vandalizadas ou furtadas, por similares de polietileno rotomoldado, tão resistentes quanto, só que sem valor comercial e fixadas com parafuso antifurto, o que desestimula o vandalismo.

Num dos grupos que lancei a reportagem já me disseram que continuam a depredar, desta vez por gosto. Tudo bem, esse poder de ajuda a engenharia não possui , mas lava a alma saber que a inovação está cumprindo seu devido papel social. Um produto só pode ser considerado inovador quando substitui o primeiro com vantagens técnicas, garanta rentabilidade e melhore a vida da população.

Como ajudam a melhorar a vida de quem os ocupa os containers metálicos adaptados que vejo na capa do Estadão de 18 de janeiro de 2021. Containers não, Casas dignas de 18 m2 que servem de moradia temporária para pessoas em situação de rua em São Paulo. Mais uma contribuição social da engenharia, desta vez para a viabilização do projeto Reencontro da prefeitura de São Paulo, que garante endereço fixo para famílias com crianças de até quatro pessoas, por até dois anos. Tão bom quanto o amparo é ter um CEP para apresentar na entrevista de emprego, o que é determinante para que se valide a eventual contratação.

Voltando ao viaduto, de fato engenharia faz obras…. de arte.

Sergipe V- Epílogo- A comida

Fosse o Anthony Bourdain*, sentaria numa das mesas de plástico vermelhas perfiladas e pediria o prato feito com carne cozida que me chamou a atenção logo na entrada do mercado municipal Antonio Franco,mas Gicelene só tinha olhos para o restaurante Instagramável na cobertura do prédio.

Ainda sigo a surrada edição de 2013 do Guia Quatro Rodas . Se o restaurante consta na última edição da bíblia do viajante e perdura até hoje é porque é bom. Como exemplo da excelência do Guia, vejam como fazem referência ao “O Miguel”: “onde a estrela … é a carne de sol. As peças de filet-mignon chegam ao restaurante, são cortadas , salgadas e descansam em câmara frigorífica por 24 horas . Depois disso , são assadas na brasa . O alto e suculento bife é servido com cremoso pirão de leite e farinha d’água ou farinha de manteiga.” Queria comparar com a que comi em Teresina -PI, mas não deu, estavam de recesso…

Qual prato irá me fará voltar à Aracaju ? Por conta da desproporção entre o sabor da comida e a simplicidade do preparo, o Vermelho servido inteiro na beira da praia de Atalaia, preparado na fritura em uma barraca meio que camuflada entre dunas e coqueiros. Também o espeto de manjubinha na foz do Rio São Francisco. Anthony Bourdain referendaria minha escolha.

O site TasteAtlas (olha aí indicação de novo!), “…referência como guia de viagem para comidas tradicionais.”, indicou a picanha como o segundo colocado dentre as cem melhores comidas típicas do mundo. Porque não a moqueca, pensei logo?! E não há de ver que está em 49º lugar no ranking! Ok, vaca ataloda está em 29º, mas no caso da moqueca qual brasileiro torceria o nariz? Feijão tropeiro ficou em 50º.

Comi moqueca boa em Aracaju. Uma rendeu bonita história. Uma vez , a carioca Eliane, proprietária de famoso restaurante homônimo na beira da praia, embora nunca tivesse cozinhado na vida, foi informada pela cartomante que seu futuro estava na culinária. Não acreditou, mas passados o tempo viajou para Jandaíra-SE, onde morava o pai. Lá chamou sua atenção a movimentação intensa de caminhoneiros e a ausência de restaurantes, então resolveu abrir uma cantina. Um dia foi chamada para reforçar a equipe de cozinheiros de um evento, sua comida caiu no gosto de político forte no estado e daí não parou mais…

Chegamos em Aracaju já era noitinha. Dia 25, Natal, e a primeira iguaria que comemos foi o pastel de Pitu no restaurante da Eliane. Na véspera da nossa partida da cidade, encontramos enfim a ansiada carne de sol de filet, mas no Carro de Bois. Começou bem a viagem , terminou melhor.

* Anthony Bourdain- Chef e crítico de culinária, escritor , apresentador e desbravador do mundo atrás de sabores e histórias especiais. Morreu cedo demais :(.

Nem falei das pingas …

Sergipe IV- Os Rios

No desenho animado da Peppa Pig, nos locais onde chega para conhecer , Dona Coelha já está por lá vendendo algo.

Se for visitar a foz do Rio São Francisco, o ponto em que este gigante da integração brasileira deságua no oceano atlântico, irá encontrá-la também.

Diariamente ribeirinhos do povoado de Sarané-SE, cruzam o rio caudaloso em pequenas embarcações carregadas de artefatos e mantimentos rumo à pequena ilhota em Piaçabuçu- AL, onde turistas atracam para assistir de perto o encontro das águas. 

Montam lá uma feira de artesanato coberta de pano amarrado em pau roliço para vender genuíno artesanato local e iguarias. Não descuidam nem da praça de alimentação, composta do indefectível conjunto de mesa e cadeiras de PVC e abastecida por espetinhos de vários sabores. Destaque para o de manjubinha, tira gosto para descer acompanhado por uma das diversas misturas de pingas compostas, à disposição num canto singelamente denominado farmácia.  

A vista inusitada quase me tira a atenção do ansiado “farol do cabeço”. Enferrujado e sem a utilidade de outrora, serve mais como boia indicadora da entrada do golfo, onde passasaracoteando energicamente, como um João Bobo, bombardeado de frente por fortes ventos e impelido pelos fluxos e refluxos das marés. 

Intrusa inesperada, a feirinha cumpre um papel social. O artesanato de palha é belíssimo (vendido no aeroporto a preço bem superior), a internet pega bem naquele rincão e as vendedoras aceitam Pix ou cartão. Destoam a bagunça, a cerveja e a música alta demais trazidas pelos turistas. Nada que uma caminhada de meia hora sob sol escaldante para mergulho no oceano atlântico não resolva, ainda. 

O encontro de rios importantes com o mar parece ser característica na costa do estado. A exemplo do Rio São Francisco, conhecemos também o Sergipe e o Vaza Barris. Oprimeiro compõe magnífico cenário com o porto de Aracajú, o Mercado Municipal e os bonecos gigantes da orla em frente ao Museu da Gente Sergipana.

O segundo é tratado por Euclides da Cunha como um dos protagonistas de Os Sertões, pois foi às suas margens que se formou o povoado de Canudos. Lembrar desta história ao mergulhar na sua foz ao cair da tarde, tendo ao fundo umabonita ponte curva de concreto sustentada por pilares delgados retangulares e ladeado de manguezal ainda intacto só não foi mais tocante por conta de bagunça, cerveja e música alta demais trazidas por turistas.